Formação acadêmica de quatro anos busca consolidar padrões de qualidade, mas enfrenta resistência de parte da “velha guarda”
Por Redação
A graduação em Psicanálise começa a ocupar espaço no cenário acadêmico brasileiro e já desperta debates acalorados entre profissionais do campo. Defensores da formação reconhecida pelo Ministério da Educação (MEC) afirmam que o curso de quatro anos é um marco para o aprofundamento no chamado “tripé psicanalítico” — teoria, análise pessoal e supervisão clínica. Esses eixos, já apontados por Freud como essenciais, oferecem a base para que o futuro analista una conhecimento teórico, autoconhecimento e prática supervisionada. O pesquisador Renato Mezan, em Freud: a trama dos conceitos (1998), destacou a importância dessa solidez para que a clínica psicanalítica seja exercida com rigor.
Reconhecimento acadêmico x tradição livre
No Brasil, o reconhecimento pelo MEC vem sendo celebrado por especialistas. A psicanalista Maria Fernanda Amaral, doutora em Psicanálise e com 14 especializações, afirma que “a legitimação acadêmica garante não só padrões de qualidade, mas também o respeito da sociedade e das instituições à profissão”. Ainda assim, o tema divide opiniões. Muitos psicanalistas formados nas décadas anteriores defendem que a psicanálise deveria permanecer como prática livre, sem regulamentações, em linha com as críticas de Jacques Lacan às instituições de ensino formal. Para eles, a institucionalização pode representar uma ameaça à essência criativa da psicanálise.
Cursos rápidos sob suspeita
Outro ponto que alimenta o debate é a proliferação de cursos livres e pós-graduações de curta duração, alguns com apenas quatro meses. Especialistas alertam que tais formações não transmitem nem uma fração do conhecimento necessário para sustentar a prática clínica. “A transmissão da psicanálise exige tempo, experiência e engajamento, o que não se alcança em cursos ultrarrápidos”, escreveu o psicanalista Joel Birman em Psicanálise, ciência e cultura (2001). Para ele, formações superficiais representam risco à seriedade da profissão e podem expor pacientes a práticas pouco éticas.
Medo de perder espaço
Além da crítica à institucionalização, analistas observam que parte da resistência de profissionais mais antigos está relacionada ao receio de perder mercado para novas gerações. Formados oficialmente e alinhados às exigências acadêmicas atuais, esses psicanalistas representam um contraponto às práticas tradicionais. A historiadora Élisabeth Roudinesco, em Por que a psicanálise? (1998), já afirmava que a vitalidade do campo depende de sua capacidade de dialogar com instituições, ciência e cultura. Nesse sentido, a graduação surge não como ameaça, mas como um passo decisivo para fortalecer a psicanálise diante dos desafios contemporâneos.
