Imagina ter Diabetes e um cão que te avisa com antecedência, que você vai sentir em minutos uma alteração glicêmica? Ao ver a mãe sofrendo com a doença, o adestrador Glauco Lima não pensou duas vezes: durante dois anos treinou a Guria para alerta diabético. “Comecei a presenciar situações em que minha mãe se sentia desamparada e percebi que podia melhorar a qualidade de vida dela. Hoje, com a Guria, ela sai pra passear sem receio de ter uma crise no meio da rua”, pontua o especialista.
Tudo porque a fêmea da raça Australian Catle Dog é a primeira cadela para alerta médico de Diabetes treinada em território brasileiro e que tem o apoio de outro grande profissional: o médico veterinário e professor Regis Christiano Ribeiro. Os cães de alerta diabético são treinados para detectar mudanças no odor corporal relacionadas a flutuações glicêmicas. “Nós recriamos esse odor através de amostras que vamos desenvolvendo conforme o treinamento que é constante, e comparamos os momentos de crise acusados pela medição da glicose, com as reações anteriores do cão a esse evento. Geralmente, o local em que mais exalamos esse odor fica perto das panturrilhas e na parte de trás da perna e a cadela, por instinto, checa primeiro essas regiões, usando o faro para verificar se algo está errado com o tutor”.
No caso da Guria, ela é treinada para apontar para o tutor que está sentindo algo errado pelo olfato, assim ele já se prepara para uma possível crise. Em comandos básicos a cadela ainda pega a necessaire de cuidados médicos, leva água e protege a pessoa até que seja ajudada (quando a crise ocorre, por exemplo, no meio da rua). Ainda, durante o sono, se ela perceber alteração da glicose, imediatamente ele acorda o dono, para que ele possa tomar providências e equalizar o mal estar, já que é comprovado que crises no momento de descanso são as mais perigosas.
Glauco Lima quer dar voz aos portadores de Diabetes em busca de uma melhor qualidade de vida e ressalta que a falta de uma legislação brasileira mais adequada, que garanta que essas pessoas possam trafegar com seu cão de alerta médico em diversos locais atrapalha o desenvolvimento de muitas famílias que o consultam. “Uma publicação do Diabetes Care demonstrou que os cães antecipam eventos hipoglicêmicos com alta sensibilidade, oferecendo segurança adicional a pacientes insulino-dependentes. Até mesmo alertas para crises epilépticas já foram relatados em estudos mundo afora e aqui a gente esbarra na falta de lei que burocratiza e limita a evolução das pessoas e até poda o direito do ser humano, de socializar e sentir-se integrado à vida. É um absurdo”, desabafa.
O professor e doutor Regis concorda e vai além: “É preciso entender que um cão é muito mais que uma companhia: ele é uma vida que chega para mudar a sua, dos seus familiares e amigos. Aquela história de ensinar comandos como ‘senta e deita’ já se faz ultrapassada visto que esses animais podem e entendem muito mais do que imaginamos. No processo do treinamento, a Guria demonstrou isso e é nítido o carinho e foco que ela tem em ajudar, diante da situação de desequilíbrio que houver em sua presença”.
